1-Primeiramente Vini, gostaria que você falasse um pouco do novo cd de vocês, o D.E.M.O., que marca o retorno da banda depois de um tempo na “inatividade” e também traz uma mudança na formação. Como foi o processo de composição deste novo trabalho e como foram as gravações?
Vini: Esse cd é um registro das músicas que eu e o Capilé fizemos enquanto estávamos no "exílio" do rock , ou seja , a vida normal. Isso influenciou totalmente as músicas, principalmente as letras que refletem essa experiência de se privar daquilo que você mais gosta de fazer na vida. Ter que recomeçar com uma banda nova lançando um "primeiro cd" de novo é um dos motivos do nome ser D.e.m.o. A intenção era registrar tudo o mais real possível, pros nossos antigos fãs e a galera que está conhecendo a banda agora saberem como realmente é a banda que continua a ser o Sugar Kane, essa nova família.
2 – E sobre a saída do Junior e do Renê (dois integrantes bastante identificados já com a banda, desde o início praticamente)? Rolou alguma “crise interna” ou foi uma mudança que traduziu apenas uma mudança nos caminhos musicais de vocês?
Capilé: Cada um é uma história diferente. O Júnior mesmo antes de sair da banda já estava um pouco afastado da gente. Não tava rolando aquela química necessária num relacionamento. Quando paramos em 2006 a distância aumentou, quando resolvemos voltar ele decidiu sair. O Renê já tava um pouco cansado do rolé do rock, tava a fim de fazer algo mais susse. Ele acabou montando uma pousada em SC e tá feliz da vida. Às vezes ele dá o ar de sua graça nos nossos shows. Trocar de integrantes nunca é uma coisa legal numa banda, mas tivemos sorte de ter escolhido as pessoas certas que não tentam imitar os que já tinham passado.
3 – Sobre o significado D.E.M.O. (diversão esquizofrênica para mentes ociosas) de onde veio esta idéia? Seria alguma mensagem subliminar também contra esta “onda” (se é que podemos chamar assim) “emo”? Sem entrar no mérito do rótulo...
Vini: É um nome emblemático e marcante para nós. Ele diz sobre ser "normal" e o normal ser muito mais enlouquecedor do que ser um louco do rock. Toda banda nova lança sempre uma demo (pelo menos no nosso tempo era assim hehehe). Isso sem falar no capeta mesmo que é o pai do rock. Mas o lance de ser meio que um trocadilho de EMO a gente só se ligou depois mesmo.
4 – Em muitas resenhas e comentários de fãs no Orkut podemos observar que este cd tenta trazer de volta os tempos de “Continuidade da máquina” ou “Por nossa paz”, que foram sem dúvida cds que marcaram uma época do hardcore nacional. O que você acha disso? O que levou a banda a fazer um trabalho tão diferente – o álbum “Elementar” – e ousar tanto, mudando de certa forma uma “fórmula” que vinha dando certo e agradava?
Capilé: Quando gravamos os primeiros discos soávamos mais "pop" porque realmente soávamos assim, não era intencional, era o nosso som. Com a visibilidade que o “Continuidade” nos deu e logo depois o DVD ao vivo, entramos numa onda artística mesmo, queríamos gravar o disco mais doido, com a melhor gravação, revolucionar. Gravamos o “Elementar” nessa vibe, ficamos muito tempo fazendo o disco. Ele foi um dos momentos que mais crescemos musicalmente. Como todo disco com essa característica, ele não foi um sucesso de aceitação, mas pra gente foi importante. Essa comparação do DEMO como um disco parecido com os de maior aceitação acredito vir da simplicidade do disco. Ele é direto e com uma linguagem mais simples, tanto musical quanto nas letras. Não buscamos forçar e fazer o som que "deu certo" novamente, só aprendemos que não adianta complicar. O segredo da genialidade nunca esteve na complexidade.
5 – Vocês disponibilizaram o álbum na íntegra em streaming no site de Vocês. Você acha que este tipo de divulgação ajuda ou atrapalha, já que de certa forma pode acabar trazendo uma queda na venda de cds? Qual o papel da internet na trajetória do Sugar Kane?
Capilé: A internet sempre esteve ao nosso favor. Vivemos exatamente na geração que internet virou a cena independente. Sem ela não teríamos chegado a lugares tão distantes, tanto no Brasil quanto fora. Atualmente a história de internet mudou muito graças a pirataria, o que tornou tudo mais delicado. Resolvemos disponibilizar nosso disco em streaming por um motivo: não pertencemos a uma major. As pessoas não saberiam que o disco estava ai. Como muita coisa mudou depois que voltamos, decidimos que as pessoas teriam que saber que lançamos um disco novo. Aproveitamos a internet pra dar acesso ao disco, sem pirataria. Hoje ninguém mais compra um cd sem ouvi-lo antes. Passou o tempo em que comprar disco era a forma de conhecer o som. Pensamos o seguinte "Se as pessoas tiverem um acesso rápido ao disco, ouvirem e curtirem a chance de comprar é maior". Felizmente o lance do streaming deu certo. Não apoiamos a pirataria, mas não vamos nadar contra a evolução.
6 – E sobre os boatos que surgiram que vocês fechariam com alguma major para o lançamento deste novo cd? Vocês chegaram a ser sondados? Teve alguma proposta de fato para um lançamento numa estrutura de uma multinacional ou gravadora grande?
Vini: Proposta de verdade a gente nunca teve e nem nunca corremos atrás disso. Mas vc sabe que a boataria sempre rola e o importante é a lenda que se forma com isso. Falem bem ou falem mal mas falem de nós.
7 – Como vocês enxergam o mercado atual? Novas bandas, velhas bandas, público de uma maneira geral, etc? A pergunta se faz necessária, até porque o SK é uma das bandas mais antigas em atividade dentro do cenário underground/hardcore...
Vini: Acho que agora falta público por que todo mundo tem banda hehehehe. Brincadeira. Mas a qualidade das produções está melhorando, só acho que falta originalidade. É muita gente fazendo o mesmo som, com o mesmo visual e até o mesmo show. Se alguém quiser se diferenciar, vai ter que ser mais criativo e romper com o modelo que está aí. O mercado independente caiu um pouco por causa das bandas que ficaram "grandes demais" e caras demais pra realidade que não é fácil de manter. Mas ele existe e se mantém pela vontade da galera.
Vini: Acho que a convivência dentro de uma banda é um fator que contribui muito pra isso. Pessoas diferentes com objetivos diferentes foi uma das razões por que a gente deu uma pausa nas atividades, pra ver quem queria continuar e pra resolver pendências que já estavam pegando pra todos da banda. O Sugar vai acabar um dia. Mas por enquanto não estamos preocupados com isso e tenho certeza que as bandas que pararam agora logo voltam a ativa, por que sei como é ficar longe do rock e daquilo que você cultivou com seu sacrifício.
9 – Agora uma pergunta mais de caráter pessoal. Você passou uma temporada lá na Califórnia ano passado indo a shows, freqüentando baladas e vivendo o cenário rock/underground por lá. Gostaria de ouvir de você as impressões sobre o que você viu por lá e a principal diferença do que rola por lá e do que rola por aqui em relação ao rock (e mais especificamente punk-rock/hardcore)
Capilé: Ao mesmo tempo tudo é muito parecido e completamente diferente. Na gringa o rock tá no sangue da galera, é tipo samba, axé e afins do Brasil. Isso resulta num mercado muito maior de rock, onde não só o mainstream sustenta. A cena independente sobrevive e a galera encara tudo de forma muito profissional. Tanto casas de show, bandas, produtores... esse profissionalismo que muita vezes nos falta. Talvez seja a falta de grana ou da personalidade coletiva brasileira. No Brasil não temos muito espaço pela fala de publico ROCK, o que faz várias bandas abrirem mão de seus ideais musicais e se adequarem a formulas de sucesso pra conseguir sobreviver de música. Na gringa o sonho pode continuar. Mas essa dificuldade gerada nos faz mutantes do rock, tendo que ao mesmo tempo ser POP e ter credibilidade. As bandas de lá que conheci amam o Brasil pelo lance da energia do público brasileiro, porém todos reclamam da estrutura das tours e principalmente dos calotes já tomados. Acho que não tem o que comparar. Temos nossos extremos e eles o deles, cada um se desenvolve de acordo com seu meio. O importante é fazer o que ama e se entregar de alma e consciência ao que acredita, isso funciona tanta lá como aqui.
10 – Palavras Finais Capilé...Pode xingar todo mundo, mandar beijo,etc...etc...rsrsrs
Capilé: Valeu Marcião e Urubuz por toda a força durante anos e por acreditar na gente. Valeu Punknet por nos considerar dignos de ser uma banda do mês. Lembro que a gente foi há muitos anos atrás e foi muito importante pra banda. Valeu também a todos nossos fãs por acreditarem e nos defenderem com unhas e dentes. Estamos aqui pra fazer a diferença. 10 anos não são 10 dias. É bom ter sobrevivido à troca de gerações e continuar fazendo um som sincero e ainda ter nosso espaço. Muita coisa ainda acontecerá com o Sugar Kane e esperamos que todos vocês façam parte deste momento futuro.
3 comentários:
Capilé tá mei diferente na foto, e quem é o quinto integrante que não tô reconhecendo???
Porra. SK ta diferentezao na foto, viu! haehae
http://www.punknet.com.br/entrevistas/mostra_entrevistas.php?id_entrevistas=225
Ao "roubar" uma entrevista dessas, gentilmente peço que creditem a verdadeira fonte.
E por favor, coloquem a foto do SK e não do Dead Fish.
Obrigado e um abraço.
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